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A energia escura ficou ainda mais estranha — e afinal o Universo pode acabar num “Big Crunch” digno de filme apocalíptico

Durante décadas, os astrónomos acreditaram que o destino do Universo estava mais ou menos traçado: expansão eterna, galáxias cada vez mais afastadas, um céu nocturno cada vez mais vazio e, num cenário mais dramático, tudo a ser lentamente rasgado num hipotético Big Rip. Mas agora, como se o cosmos tivesse decidido mudar o guião a meio da história, a energia escura voltou a baralhar as contas — e a palavra “Big Crunch” voltou a ganhar protagonismo.

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Tudo gira em torno da chamada energia escura, uma força misteriosa que representa cerca de 70% do Universo e que, desde 1998, é apontada como a responsável pela aceleração da expansão cósmica. Foi nessa altura que o estudo de supernovas — estrelas que explodem de forma extremamente luminosa — revelou algo inesperado: em vez de desacelerar devido à gravidade, o Universo estava a expandir-se cada vez mais depressa. A descoberta foi tão importante que acabou por valer um Prémio Nobel.

No entanto, os dados mais recentes começaram a contar uma história menos linear. Em Março, surgiram resultados surpreendentes do Dark Energy Spectroscopic Instrument (DESI), instalado no deserto do Arizona. O objectivo do instrumento é simples (pelo menos em teoria): medir com enorme precisão o movimento de milhões de galáxias para perceber melhor como a energia escura se comporta. O problema é que os dados sugerem que a aceleração do Universo pode não ser constante.

“Se a energia escura sobe e depois desce, precisamos de um novo mecanismo”, explicou Ofer Lahav, da University College London. Traduzindo: isto pode obrigar a reescrever uma parte significativa da física moderna.

A polémica ganhou ainda mais força em Novembro, quando a Royal Astronomical Society publicou um estudo liderado por Young Wook Lee, da Yonsei University, na Coreia do Sul. A equipa revisitou os mesmos dados de supernovas que tinham revelado a energia escura nos anos 90, mas introduziu uma nuance importante: ajustou o brilho das supernovas à idade das galáxias onde ocorreram.

O resultado foi, no mínimo, inquietante. Não só a energia escura parece ter mudado ao longo do tempo, como a aceleração do Universo poderá estar a abrandar. “O destino do Universo vai mudar”, afirmou Lee sem rodeios. Se esta força continuar a enfraquecer, a gravidade pode acabar por vencer… e puxar tudo de volta.

É aqui que entra o Big Crunch: um cenário em que a expansão abranda, pára e se inverte, fazendo com que galáxias, estrelas e matéria colapsem novamente num estado extremamente denso. Um final menos “infinito” e mais esmagador.

Claro que nem todos estão convencidos. Astrónomos como George Efstathiou, da Universidade de Cambridge, consideram que os resultados podem estar a reflectir apenas detalhes complexos no comportamento das supernovas. Ainda assim, Lee defende-se com estatística pesada: segundo ele, a probabilidade de os dados serem um acaso é de uma em um trilião.

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Desde então, outras equipas reanalisaram os dados e, embora tenham suavizado algumas conclusões, as pistas não desapareceram. O debate continua aceso, com centenas de estudos publicados e opiniões divididas. Para Robert Massey, isto é tudo menos um problema. “Quem não quer saber como o Universo começou… e como vai acabar?”, questiona.

Seja num sussurro cósmico ou num colapso monumental, uma coisa é certa: o Universo ainda tem muitos truques escondidos. E nós estamos apenas a começar a perceber que talvez o fim não seja uma expansão eterna… mas um regresso dramático ao princípio.

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