Se a evolução fosse uma telenovela, o episódio de hoje trazia uma reviravolta digna de final de temporada: afinal, os primeiros animais da Terra podem ter sido… esponjas do mar! Não as de lavar a loiça, mas as ancestrais e gelatinosas que filtravam o oceano há mais de 541 milhões de anos.
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Investigadores do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) anunciaram uma descoberta fascinante — e um bocadinho pegajosa. Ao analisarem rochas antigas de lugares como Omã, Índia e Sibéria, encontraram fósseis químicos que indicam que as demospongiae, um grupo de esponjas marinhas ainda existentes, poderão ter sido os primeiros animais a aparecer no planeta.
🔬 Fósseis que não se veem, mas contam tudo
Os cientistas não descobriram esqueletos ou conchas. Descobriram algo mais subtil: esteranos, moléculas derivadas de esterois (como o colesterol) que resistem ao tempo e ficam “impressos” nas rochas — uma espécie de ADN químico do passado.
Esses compostos, identificados agora com precisão cirúrgica, são versões estáveis de moléculas que só os seres vivos produzem. E, neste caso, a assinatura química bate certo com a das esponjas modernas.
Como explicou o professor Roger Summons, do MIT:
“Não sabemos exatamente como seriam estas criaturas, mas viviam no oceano, eram de corpo mole e, provavelmente, não tinham esqueleto de sílica.”
Ou seja, imagine pequenas massas esponjosas a flutuar em mares primordiais, muito antes de qualquer peixe, inseto ou dinossauro ter sequer piscado um olho.
🧪 A esponja que veio do passado (e que ainda respira entre nós)
A investigação — publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences — partiu de uma pista de 2009, quando a mesma equipa encontrou esteranos de 30 carbonos (C30) em rochas do período Ediacarano (entre 635 e 541 milhões de anos atrás). Agora, descobriram novos fósseis químicos com 31 carbonos (C31), ainda mais raros e específicos das esponjas.
Para confirmar a origem, os investigadores analisaram esponjas atuais, sintetizaram as mesmas moléculas em laboratório e até simularam as condições geológicas de milhões de anos. O resultado? Uma correspondência perfeita — provando que não se trata de um acaso químico, mas sim de um rasto biológico deixado por criaturas vivas.
🌊 As esponjas: pioneiras silenciosas do reino animal
Estas esponjas ancestrais eram simples, mas geniais. Alimentavam-se filtrando água, transformando matéria orgânica microscópica em energia — o que faz delas as prováveis “mães” de toda a vida animal complexa.
A equipa liderada por Lubna Shawar (agora no Caltech) e Roger Summons acredita que estes fósseis confirmam que as esponjas surgiram muito antes da “explosão” de vida do período Cambriano, quando o planeta se encheu de criaturas com conchas, patas e dentes.
Como Shawar explicou:
“Mostrámos como autenticar um biomarcador, verificando que um sinal vem realmente da vida — e não de processos químicos inorgânicos.”
🚀 Da lama ao cosmos (com apoio da NASA)
O estudo foi financiado, entre outros, pela NASA, que vê nesta investigação uma peça importante para compreender como e quando a vida começou — e, quem sabe, como a procurar noutros planetas.
Por agora, o que sabemos é isto: há mais de meio milhar de milhão de anos, as primeiras criaturas a chamar este planeta de lar eram macias, silenciosas e cheias de poros.
Pode parecer pouco glamoroso, mas sem elas, provavelmente nenhum de nós estaria aqui. 🧬
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Fontes: MIT News, PNAS, South China Morning Post, Phys.org
