Se já se sentiu estranho por entrar sozinho num restaurante, prepare-se: na Coreia do Sul existe um sítio onde isso não só é desencorajado… como é oficialmente proibido. E com direito a cartaz, regras dignas de sketch de humor e uma mensagem que basicamente grita: “Aqui não se vende solidão.”
O protagonista desta novela gastronómica é um restaurante de noodles em Yeosu City, que decidiu afixar um cartaz com as seguintes quatro opções para quem ousasse aparecer sozinho:
- Pague duas doses,
- Coma duas doses,
- Ligue a um amigo,
- Volte com a sua esposa da próxima vez.
No centro do cartaz, em letras orgulhosas, lia-se: “Não vendemos solidão. Por favor, não venha sozinho.”
É sempre bom quando um restaurante nos dá indicações claras. E esta, meus amigos, é cristalina: é proibido ser solitário — a menos que leve companhia para pagar metade da conta.
A polémica explodiu quando um cliente esperou mais de uma hora na fila, apenas para ser informado, com uma educação de rinoceronte constipado, que clientes sozinhos não eram permitidos. Outro relatou que, ao chegar sozinho a um restaurante de gukbap, ouviu a clássica desculpa da restauração: “estamos sem ingredientes”. Milagrosamente, a comida reapareceu assim que chegou um grupo de três.
E a justificação dos donos? Muito simples: rising costs, baby. Custos de comida, de energia, de mão-de-obra — tudo a subir. Assim, dizem eles, um cliente ocupa uma mesa de quatro… mas consome por um. Resultado: matemática de pesadelo.
Segundo a legislação sul-coreana, escolher clientes não é ilegal, e portanto muitos restaurantes aproveitam esta “lacuna” para impor as suas próprias regras de eficiência. De acordo com o JoongAng Daily, em Março de 2025 apenas 10,4% dos 170 mil restaurantes do país ofereciam realmente refeições pensadas para uma única pessoa. Solidão? Só no take-away.
Mas o caso que realmente virou churrasqueira nas redes sociais foi o de uma YouTuber que decidiu enfrentar o sistema: entrou sozinha… e pediu duas porções. A pensar que estava a cumprir o “regulamento olímpico” da casa, avançou confiante. Entretanto, os funcionários, que claramente tinham acabado de perder a paciência no vestiário, começaram a ralhar com ela.
— “Coma mais depressa!”
— “Quanto tempo vai demorar?”
— “Ainda está aí?”
A dada altura parecia mais uma prova de resistência do que um almoço.
Esta corrente anti-solitários tem até nome local: muitos coreanos comentam que jantar sozinho é um desafio cada vez maior num país onde os restaurantes tentam espremer cada mesa como se fosse ouro puro. Mas esta guerra cultural entre quem come sozinho e quem calcula margens de lucro com a precisão de um relojoeiro suíço continua a gerar debates flamejantes online.
Por aqui, no destaques.pt, só conseguimos imaginar o absurdo: um dia destes ainda vamos ter cartazes a dizer “Não vendemos aborrecimento”, “Não servimos ressacas”, ou “Clientes maldispostos só com pré-reserva”.
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Até lá, se quiser comer sozinho na Coreia… talvez seja melhor optar por um banco de jardim. Pelo menos ninguém o manda comer mais depressa.
