Se achas exagero quando alguém diz que “mora num prédio enorme”, prepara-te para redefinir completamente o conceito. Na cidade ucraniana de Lutsk existe um verdadeiro monstro de betão que não só é oficialmente considerado o edifício residencial mais longo do mundo, como também alberga uma população digna de uma pequena vila. Estamos a falar de 2,75 quilómetros de comprimento, mais de 3.000 apartamentos e cerca de 10.000 pessoas a viverem… todas no mesmo prédio.
Conhecido localmente — e com algum humor — como a “Grande Muralha da China”, este colosso soviético situa-se na intersecção da Avenida Sobornosti com a Rua Molodezhy. A construção começou em 1969, ainda durante a União Soviética, e só ficou concluída 11 anos depois, um prazo pouco habitual para um prédio de habitação… mas este projecto estava longe de ser normal.
A ideia saiu da cabeça dos arquitectos R. G. Metelnitsky e V. K. Malovitsa, que decidiram criar um complexo residencial contínuo, gigantesco e funcional. O resultado foi um edifício que, à data da sua conclusão, já era o maior do género em toda a União Soviética — e que, mais de 40 anos depois, continua sem rival em todo o planeta.
Curiosamente, visto do chão, é quase impossível perceber a verdadeira dimensão do edifício. Só a partir do ar é que se revela o seu impressionante desenho em favo de mel, cheio de curvas, ramificações e extensões. O eixo principal mede “apenas” 1,75 quilómetros, mas quando se juntam todos os blocos laterais, o total sobe para uns respeitáveis 2,75 km. Diz quem lá vive que atravessar o prédio de uma ponta à outra a pé demora cerca de uma hora — e isso sem se perder pelo caminho.
Com centenas de entradas, milhares de janelas e uma população comparável à de muitas localidades europeias, este edifício funciona quase como uma cidade autónoma. Nos primeiros anos, muitos moradores confessaram que demoraram semanas a encontrar o próprio apartamento, o que obrigou à criação de um sistema de endereços interno bastante peculiar para evitar que as pessoas acabassem a bater à porta errada… todos os dias.
Apesar de ser visto como uma curiosidade arquitectónica fascinante, o futuro da “Grande Muralha” não é totalmente seguro. Embora Lutsk fique no oeste da Ucrânia, longe da linha da frente da guerra com a Rússia, o risco de bombardeamentos existe em todo o país. Para agravar a situação, o edifício precisa urgentemente de obras de manutenção, mas encontrar financiamento em tempo de guerra é tudo menos fácil.
Como resposta, uma agência de viagens local teve uma ideia inesperada: organizar visitas guiadas e eventos no topo do edifício, usando a sua fama mundial para angariar fundos destinados à recuperação desta relíquia soviética. Uma espécie de turismo arquitectónico com fins de sobrevivência urbana.
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No fundo, este prédio é mais do que um recorde mundial. É um símbolo de uma era, de uma ambição arquitectónica sem medo do exagero… e de uma comunidade inteira a viver, literalmente, sob o mesmo tecto — mesmo que esse tecto tenha quase três quilómetros de comprimento.
