Se alguém te disser que existe um avião mais largo do que um campo de futebol, a reação natural é desconfiar. Talvez pensar que a pessoa exagerou no café ou andou a ver demasiados filmes de ficção científica. Mas, neste caso, a história é verdadeira — e chama-se Stratolaunch ROC, o maior avião do mundo em envergadura alguma vez construído… e a voar.
Apelidado de ROC, em homenagem ao pássaro gigante da mitologia capaz de transportar elefantes nas garras, este colosso dos céus é um verdadeiro monstro da engenharia moderna. O nome não foi escolhido ao acaso: com uma envergadura de 385 pés (117 metros), o Stratolaunch é consideravelmente mais largo do que um campo de futebol americano, que mede cerca de 300 pés. Em termos práticos, se o estacionássemos num estádio, ainda sobravam asas para fora.
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À primeira vista, o ROC parece dois aviões colados lado a lado, como se alguém tivesse carregado demasiado no “copiar e colar” num software de design aeronáutico. E, na prática, é quase isso. O avião tem dois fuselagens, cada uma com 73 metros de comprimento, ligadas por uma asa gigantesca. Para suportar tudo isto no solo, o aparelho conta com 28 rodas— 12 em cada fuselagem para o trem principal e duas rodas de nariz em cada lado. Só o processo de estacionamento já deve ser uma aventura logística.
Originalmente, o Stratolaunch foi concebido para um objectivo muito ambicioso: servir de plataforma de lançamento aéreo para foguetões, num sistema conhecido como air-launch-to-orbit. A ideia era simples (pelo menos no papel): o avião levava o foguetão até grande altitude e libertava-o, reduzindo custos e aumentando a flexibilidade dos lançamentos espaciais. O projecto foi idealizado por Paul Allen, cofundador da Microsoft, em parceria com a empresa Scaled Composites.
Após a morte de Paul Allen, o destino do ROC mudou. Em vez de lançar foguetões para o espaço, o avião foi reconvertido para testes de voo hipersónico, servindo agora como plataforma para experiências de alta tecnologia que ajudam a desenvolver aeronaves do futuro. Pode não levar astronautas, mas continua a empurrar os limites da aviação.
Um detalhe curioso é a forma como o avião é operado. O cockpit fica apenas na fuselagem direita, onde se encontram o piloto, o copiloto e o engenheiro de voo. A fuselagem esquerda voa completamente vazia de tripulação, alojando apenas sistemas de dados e instrumentação. É, literalmente, metade avião tripulado, metade avião fantasma.
Quanto à potência, não faltam músculos: o Stratolaunch ROC é impulsionado por seis motores Pratt & Whitney PW4056, cada um capaz de produzir cerca de 56.750 libras-força de empuxo. No total, é energia suficiente para levantar do chão um objecto que mais parece uma cidade com asas.
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No fim de contas, o Stratolaunch ROC é a prova de que, quando a ambição humana encontra engenharia sem medo de exagerar, nascem máquinas que parecem impossíveis… mas que descolam mesmo.