Numa altura em que a inteligência artificial é apresentada como capaz de escrever textos, conduzir carros e até prever comportamentos humanos, eis que a realidade decide dar-nos uma chapada de ironia: na China, um grupo de funcionários conseguiu enganar um sistema de reconhecimento facial usando simples máscaras de papel com caras impressas. Sim, papel. Impressão caseira. Tesoura opcional.
ler também: A Estrada que Levou 6 Horas a Ser Feita — Porque na China Até o Asfalto Trabalha em Turnos Extra
O caso aconteceu na cidade de Wenzhou, na província de Zhejiang, no leste da China, e envolve membros de um comité de bairro — o nível mais básico da administração local chinesa. Segundo a imprensa chinesa, vários funcionários terão colaborado entre si para faltar ao trabalho, recorrendo a um esquema digno de um episódio mal ensaiado de Missão Impossível, mas com orçamento de papelaria.
O plano era simples e aparentemente eficaz: imprimir fotografias dos rostos dos colegas, transformá-las em máscaras e usá-las para enganar o sistema de ponto baseado em reconhecimento facial. Assim, uma ou duas pessoas conseguiam “dar entrada” por todo o grupo, enquanto os restantes tratavam da vida pessoal — sabe-se lá se no café, no sofá ou simplesmente a dormir mais um pouco.
O alegado cérebro da operação terá sido o secretário do comité, um homem de apelido Li, suspeito de liderar e organizar o esquema. Quantas pessoas estiveram envolvidas ao certo ainda não se sabe, mas o suficiente para levantar suspeitas e, eventualmente, chamar a atenção de um detalhe crucial: as câmaras de vigilância colocadas por cima dos scanners faciais.
Foi precisamente o CCTV que denunciou o embuste. As imagens mostravam indivíduos a aproximarem-se do sistema com movimentos estranhos, rostos rígidos demais e uma falta preocupante de… tridimensionalidade. Em resumo: pareciam pessoas a usar máscaras de carnaval, o que, de facto, estavam.
Os comités de bairro na China não funcionam como a função pública tradicional. Os seus membros não recebem salário fixo, mas sim subsídios e ajudas, o que significa que, tecnicamente, os envolvidos estavam a receber compensações sem cumprir as suas funções. E isso bastou para que o caso fosse encarado como fraude.
Nas redes sociais chinesas, a reacção não se fez esperar. No Weibo, a versão chinesa do X, multiplicaram-se os comentários indignados. “Isto é corrupção. Devem ser despedidos e punidos”, escreveu um utilizador. Outro acrescentou: “Há pessoas que trabalham mais de 10 horas por dia e outros nem as oito querem cumprir.”
Mas, curiosamente, o que mais intrigou o público não foi tanto a fraude em si — infelizmente, não inédita — mas o facto de um sistema de reconhecimento facial, supostamente avançado, ter sido enganado por algo que parece saído de um trabalho de artes visuais do 5.º ano.
Num mundo onde a tecnologia promete reconhecer emoções, idade e até intenções, descobrir que basta uma máscara de papel para iludir o sistema levanta uma questão desconfortável: afinal, quão inteligentes são estas máquinas? Ou será que confiamos demasiado nelas… e de menos no bom senso humano?
ler também : “Guinness World Records Faz 70 Anos – E Há Recordes Estranhos à Espera de Serem Batidos”
Moral da história: a tecnologia pode ser avançada, mas a criatividade humana — para o bem ou para o mal — continua vários passos à frente. Mesmo que esses passos sejam dados com uma folha A4 colada à cara.