Prepare o seu chá, endireite-se na cadeira e inspire fundo: vamos falar de uma senhora que põe metade da indústria da moda a desesperar e a outra metade a aplaudir de pé. Chama-se Carmen Dell’Orefice, tem 94 anos e continua a trabalhar como modelo. Sim, leu bem. Noventa e quatro. Eu, com 40 e poucos, já me queixo das costas para pegar no saco da reciclagem. Ela? Posso jurar que a vejo desfilar com mais compostura do que eu tenho a andar até à caixa do supermercado.
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E antes que alguém pense “isto é conversa da treta”, fique a saber: Carmen está há mais de 70 anos em frente à câmara. Foi descoberta aos 13 anos num autocarro — provavelmente com a mesma expressão que nós fazemos quando percebemos que esquecemos a carteira em casa — e, aos 15, já estava na capa da Vogue. No meu caso, aos 15, a única capa que me metia era a do edredão porque tinha medo de ir à cave buscar refrigerantes.

A vida dela, porém, não foi de glamour permanente. Cresceu em dificuldades financeiras, muitas vezes tão magra que os fotógrafos tinham de encher vestidos com papel para parecer que havia curvas. Para ajudar em casa, chegou a trabalhar como costureira com a mãe. Nada de limusinas, nada de eventos chiques: era linha, agulha e contas para pagar.
Depois vieram casamentos menos felizes — incluindo um marido que lhe ia buscar os cheques à agência e lhe deixava uma mesada de 50 dólares — e uma pausa na carreira. Mas, como qualquer diva que se preze, Carmen fez aquilo que as verdadeiras estrelas fazem: voltou. E voltou em força. Em 1978 regressou ao mundo da moda, e desde então tem sido presença constante em campanhas, revistas, desfiles e entrevistas que deixam qualquer um a pensar: “Mas como é que ela consegue?”.

A resposta é tão simples como desarmante: auto-cuidado e amor-próprio. Numa entrevista recente disse que devemos tratar de nós “como tratamos um bebé: com carinho, alimentação adequada e atenção”. Ora, se eu tratasse de mim como trato do meu gato, talvez estivesse igualmente pronto para uma capa qualquer… embora provavelmente fosse uma revista de lifestyle felino.
O mais fascinante é que Carmen não é apenas a “modelo mais velha em actividade”. Ela é a lembrança viva (e elegantíssima) de que a idade não tem de ser um stop gigante na vida. Se ela pode desfilar aos 94, nós podemos pelo menos tentar não bufar a subir um lance de escadas.

E já agora, a pergunta que vale ouro: este título ainda é verdade?
Sim. Em 2025, Carmen continua a ser amplamente reconhecida como a modelo profissional mais velha em actividade no mundo da moda. Ou seja: o artigo de 2024 estava correcto — só precisa de uma actualização na idade. A lenda continua em plena forma, e nós continuamos a aplaudir.
Se algum dia eu chegar aos 94 anos, que seja com a mesma postura, a mesma confiança e, pelo menos, metade daquela elegância. Ou então com um robe quente e uns chinelos fofos. Já seria uma vitória.